terça-feira, 2 de setembro de 2008

Sessão de abertura da Universidade de Verão de 2008 [01-09-2008]




Alexandre Relvas, Presidente do Instituto Francisco Sá Carneiro, proferiu o discurso de abertura da Universidade de Verão Francisco Sá Carneiro.
Leia a intervenção na íntegra.
Começo por vos dar as boas-vindas e por expressar o desejo de que esta semana corresponda às vossas expectativas.
Quero também agradecer a todos os conferencistas a disponibilidade para estarem presentes nesta sexta edição da Universidade de Verão. Este ano foi mais uma vez possível reunir um conjunto de personalidades que garantem um programa de grande qualidade
Quero ainda felicitar a organização. A JSD e todos os que deram o seu contributo
Uma palavra muito especial para o Carlos Coelho que é a alma da Universidade de Verão e que tem tido ao longo dos anos uma intervenção de enorme relevância em vários domínios da formação política, desde os seus tempos de JSD.
A Universidade de Verão FSC, não é apenas um caso de sucesso. É hoje claramente a mais prestigiada iniciativa de formação política para jovens em Portugal
A vossa presença nesta Universidade de Verão significa um elevado interesse pela vida económica e social e pela actividade política, que não queria deixar de sublinhar. A política, na sua dimensão de serviço à comunidade, é sem dúvida uma das actividades mais nobres e interessantes que se pode desenvolver.
Sendo a qualidade da classe política decisiva para o futuro de qualquer país, é fundamental que reúna alguns dos melhores. Daí a importância de sensibilizar e mobilizar a juventude para a política com iniciativas como a Universidade de Verão.

Atendendo ao vosso interesse pela vida económica e social, não quero deixar de aproveitar esta iniciativa para vos sensibilizar para aquele que é seguramente um dos maiores desafios do nosso tempo em Portugal. A igualdade de oportunidades.
É fundamental colocarmos a igualdade de oportunidades na primeira linha do debate político e das prioridades nacionais.
É fundamental que se discuta mais os sucessos do país em termos de igualdade de oportunidades do que em termos de controlo das contas públicas ou de infra-estruturas e auto-estradas construídas, por exemplo
Quantas vezes viram, nos últimos anos ser discutida a evolução do país em termos de igualdade de oportunidades, apesar desta ser uma das bases essenciais de um país em que se valorize a justiça social.

Vocês correspondem a um segmento privilegiado da juventude portuguesa. Por mérito próprio, pelo esforço da vossa família, pela qualidade das instituições em que estudaram, vocês estão hoje na universidade e em breve estarão à procura do primeiro emprego.
Não foram muito provavelmente afectados pela brutal pobreza infantil que ainda hoje atinge 15,6% das crianças portuguesas. Esta realidade irá seguramente determinar-lhes a vida, limitando as oportunidades de realização do seu potencial.
Não podem também ignorar que cerca de metade dos vossos colegas não terminou o 12º ano e que 2 em cada 5 abandonaram os estudos com o nono ano ou menos.
Esses vossos colegas terão uma vida fortemente marcada por esta realidade e não terão muito provavelmente oportunidade de realizar as suas capacidades e aspirações. Do ponto de vista profissional, esses jovens iniciam a vida de trabalho sem preparação técnica, estando condenados, na sua maioria, a serem, pelo menos durante um período de tempo, trabalhadores indiferenciados.
Não deverão ser poucos os casos de marginalidade social que têm origem na difícil situação para que a sociedade atira estes jovens, que são no sentido real das palavras, gente sem vez nem voz.
A organização e qualidade do ensino secundário estão hoje claramente entre as mais significativas limitações à igualdade de oportunidades em Portugal.

A situação relativamente ao primeiro emprego, uma das próximas etapas da vossa vida, constitui também uma limitação à igualdade de oportunidades.
A taxa nacional de desemprego é de 7,3%
A taxa de desemprego dos jovens até aos 24 anos é de 14,3%, quase o dobro
A taxa de desemprego dos jovens com menos de 24 anos licenciados é ainda superior-17,4%
Há 72.000 desempregados com menos de 24 anos e 190.000 com menos de 34 anos.
Para fazer face a esta realidade a sociedade portuguesa não tem hoje respostas que garantam à generalidade dos jovens a entrada na vida profissional. Esta é seguramente uma área em que valeria a pena o país investir.
Para além da ausência de políticas activas, com impacto estrutural, prevalece actualmente no nosso país uma perspectiva do mercado e da legislação de trabalho que prejudica profundamente as novas gerações.

Falando em igualdade de oportunidades não se pode hoje em Portugal deixar de fazer referência à equidade e justiça entre gerações. A vossa geração, as gerações futuras não deviam ser prejudicadas pelos erros e incapacidades da actual – em termos económicos, sociais ou ambientais.
Será justo que vos entreguem um país que não soube preparar, em termos educacionais, as futuras gerações, que não soube adaptar a economia aos tempos actuais e que ano após ano empobrece em termos relativos. Um país que não tem coragem para repensar as funções do Estado, que não é exigente em termos de ordenamento, destruindo sistematicamente o património ambiental. Um país que não é rigoroso na avaliação dos investimentos em infraestruturas e que não se preocupa que a sua execução deixe um peso insuportável de financiamentos a pagar no futuro.
Esta é uma situação inaceitável. Pensem o que seriam os nossos sentimentos se os nossos pais tivessem em relação a nós a mesma atitude que o país tem em relação às novas gerações. É fundamental em Portugal garantir um novo contrato entre gerações.
Esta é uma realidade que as novas gerações têm de exigir que seja discutida e repensada e que tem de passar a fazer parte da agenda política nacional.
Seria aliás interessante que todos os anos se discutisse e se publicasse como anexo ao orçamento do Estado, as contas geracionais partindo de metodologias que vêm sendo discutidas internacionalmente, dando uma ideia clara dos compromissos para o futuro.

Não nos orgulhamos seguramente das estatísticas apresentadas. Portugal não é nos domínios referidos o país que gostaríamos que fosse, mas a realidade é o que é. O país do espectáculo e propaganda do Governo não corresponde muitas vezes ao país real.
Estes indicadores envergonham-nos como país e só permitem uma conclusão. Não se dá em Portugal suficiente atenção aos jovens. Portugal é um país que trata mal os seus filhos.
De referir também que estas questões têm sido persistentes. Temos hoje os mesmos problemas que tínhamos há dez anos.
Mesmo naqueles em que se evolui não se tem feito o suficiente. É o caso do número de estudantes que termina o ensino secundário. Em 2000 eram 43%, hoje são 53%. Na Europa dos 27 são 78%. A este ritmo levaremos quase 20 anos a igualar a Europa. Apesar das sucessivas paixões pela educação, os resultados das políticas seguidas são insuficientes. Evoluímos ligeiramente em relação ao passado mas estamos muito longe dos melhores.

Este é aliás um excelente exemplo para evidenciar que é tempo de um novo tempo em Portugal.
Neste, como em muitos outros domínios da vida económica e social, é possível fazer mais e melhor. A nossa situação actual não é uma fatalidade.
Temos de ter coragem de ter os melhores como referência. Ser tão bons como os melhores deve ser a nossa ambição como país. Temos de ser audaciosos e exigentes. Temos de fazer o necessário e não apenas o possível.
Não queremos certamente daqui a cinco ou dez anos olhar para trás e ficar com o sentimento que temos hoje que é enorme a diferença entre o que se poderia ter feito e se fez.
É com este espírito que o IFSC irá intervir como centro de reflexão política.

Integro uma equipa que tem vindo a dirigir o IFSC desde início de Agosto, sendo nosso objectivo apresentar um programa de actividades em Outubro.
Como centro de reflexão, vamos contribuir para a consolidação de uma alternativa política, propondo novas respostas para os desafios que se colocam à sociedade portuguesa.
Vamos promover um debate programático reflectindo não só sobre os desafios que o país enfrenta, mas também sobre os desafios das comunidades em que vivemos o dia a dia, em particular as cidades, que determinam profundamente a nossa qualidade de vida.
Iremos analisar as grandes tendências de evolução social e económica e o seu impacto, identificar as grandes preocupações e expectativas dos Portugueses, analisar as capacidades e limitações de Portugal para responder aos desafios actuais e futuros e apresentar propostas de prioridades e políticas públicas.
Sobre as cidades queremos dar a conhecer as experiências das autarquias portuguesas com projectos de vanguarda nas áreas de ordenamento, habitação, transportes, infraestruturas, social, económica, ambiental e cultural.
Queremos igualmente dar a conhecer as experiências e projectos internacionais de referência, nos mesmos domínios. Iremos ainda recolher propostas nas áreas económica, social, cultural e ambiental de organizações da sociedade civil e do meio académico.
Vamos promover também um debate ideológico. Acreditamos numa nova narrativa e em novas ideias para responder às grandes questões do nosso tempo e pensamos que é fundamental reafirmar as nossas diferenças em relação ao pensamento socialista.

Queremos fazê-lo numa lógica nova, aberta, participativa e em rede. A Internet será o nosso instrumento fundamental de intervenção. A nossa sede será o site do Instituto.
Vamos convidar todos os Portugueses que desejam contribuir para esta dinâmica de mudança a dar a sua colaboração, a disponibilizar a sua inteligência e conhecimento. Tanto quanto as propostas que apresentaremos valorizamos o debate, a análise, a reflexão que permitirão a sua construção.
O IFSC será uma forum livre, promotor da liberdade de pensamento, participado por pessoas livres, contrastando profundamente com a lógica de comando e controlo protagonizada pelos Governantes actuais, que de forma sistemática procuram impor um pensamento único e uma reverência total em relação às suas decisões.
Nas tarefas de reflexão a levar a efeito pretendemos envolver prioritariamente as novas gerações, que irão assumir de forma crescente novas responsabilidades económicas e sociais.
Valorizamos a sua opinião que deve ter uma influência decisiva no futuro de Portugal.
Convido-vos por isso a manter a ligação ao IFSC, através do site que lançaremos em breve, nos encontros e conferências que organizaremos.
Serão sempre bem vindos.
Desejo-vos uma boa semana de trabalho.

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