sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Um exemplo chamado: Francisco Sá Carneiro

Francisco Sá Carneiro conseguiu conciliar inúmeras características, todas elas raras num governante português. Sá Carneiro gostava do poder. Lutava por ele e nessa luta dava tudo o que tinha. Arriscava. Avançava e recuava. Baralhava os adversários e surpreendia os aliados. Tinha um projecto em mente, mas adaptava a estratégia de acordo com a maré do momento. Era um animal político excepcional. A juntar-se a esta inestimável qualidade, Sá Carneiro não queria o poder pelo poder, mas com o intuito de o usar para os fins que considerava dignos. Em 1980, esses eram um Portugal não socialista, europeu e pronto na sua aliança atlântica, naquela que era uma luta contra o comunismo soviético que à data ameaçava um Ocidente sem perspectivas de vitória. Sá Carneiro não era um liberal no sentido que o utilizamos hoje mas, ao não partilhar dos ideais socialistas, era contra sistema. Outra característica muito pouco portuguesa. Era contra, mas quis mudá-lo por dentro, de forma pacífica, sem revoluções, através de uma reforma digna desse nome, profunda e que limpasse o país de décadas de paternalismo. O então líder do PSD, que nunca receou enfrentar os barões do seu partido, julgava ser a altura de acreditar (julgo ser a essa a sua mensagem mais importante) nos portugueses. Nos homens e mulheres que todos os dias trabalham, pensam e sabem como preparar a sua vida melhor que ninguém, melhor que qualquer governo. Viver a política sem limites, ter uma perspectiva a longo prazo, adequando as mudanças possíveis às condições do presente, conseguir forçar as mudanças, dramatizando mas sem radicalizar a acção política. Eis algo que falta aos nossos políticos. Algo que não prezam os que hoje analisam e comentam a política. Num momento em que sentimos os momentos difíceis que atravessamos, em que adiamos a única solução possível, num país com um receio enorme em analisar o seu passado, o exemplo de Francisco Sá Carneiro é sempre de relembrar. A melhor forma de derrotar o imobilismo que de nós se apoderou. A mediocridade de quem todos os dias condescende dizendo que nada é fácil. Como fácil fosse o mesmo que simples.

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