segunda-feira, 24 de março de 2008

«Há informadores nas escolas»

Estudantes estão preocupados com a prática vigente em algumas escolas, onde ex-polícias estão a recolher informações sobre manifestações e outras formas de protesto, que depois enviam para o ministério da Educação.
Na ressaca da cena de violência contra uma professora, reprimem acção de colega e dizem que «novo estatuto do aluno não resolve nada»
No Dia do Estudante, surgem mais motivos de apreensão. Juntando a sua voz aos professores, os estudantes queixam-se do ambiente de desconfiança vivido nas escolas e alegadamente fomentado pelo próprio Ministério da Educação. Os alvos das críticas são agora os vigilantes, que se encontram normalmente à entrada das escolas, e que poderão estar a servir de informadores.
Quem o denuncia é a Plataforma Estudantil «Directores Não». «Estamos a falar de pessoas que todos nós conhecemos e que tratamos pelo nome. Têm mais de 65 anos, são antigos elementos das forças da ordem e que, há algum tempo para cá, estão a preencher relatórios, que depois são enviados para o Conselho de Segurança ou para as Direcções Regionais de Educação. Sempre que existe um protesto de um aluno, seja a vestir-se de negro ou a colocar um cartaz, é imediatamente identificado e essa informação é canalizada para o Ministério», contou ao PortugalDiário Luís Baptista, um dos elementos da Plataforma.
Na sua opinião, «esta até é uma situação conhecida, mas que tem de ser denunciada», porque os alunos começam a sentir menos liberdade na sua acção cívica. O próprio Luís, que também é representantes dos estudantes no Conselho Pedagógico da Escola Secundária de Camilo Castelo Branco, em Carnaxide, já foi alvo deste tipo de diligências:
«Na última manifestação, a 31 de Janeiro, fui identificado e posteriormente tive conhecimento de que existia um documento com essas informações. O mesmo aconteceu com outros alunos, com um relatório elaborado e enviado para os locais que referi anteriormente. Estas pessoas estão a tornar-se a Pide do ministério, gerando um clima de bufaria, pois relatam todo e qualquer detalhe, recolhendo até os cartazes que são colocados à porta da escola. Depois, surgem processos em tribunal, precisamente com essas informações».
«Situação conhecida
A contratação de ex-polícias para fazerem a vigilância de escolas é caso conhecido pela Associação Sindical de Profissionais de Polícia. «Sabemos que existe essa prática, pela experiência que essas pessoas acumularam ao longo da sua vida profissional, mas desconhecemos que estejam a servir de informadores para outras situações», revelou o presidente da ASPP, Paulo Rodrigues.

Estatuto do aluno não ajuda

A Plataforma «Directores Não» surgiu a 9 de Fevereiro, tendo como intenção primordial contestar o novo modelo de gestão das escolas. Os estudantes juntam-se aos professores na contestação, considerando que o modelo irá «prejudicar» a prática escolar, porque será menos democrático, centrando grande parte das decisões na figura do director de escola.
Mas, no dia do Estudante, a Plataforma não deixa de reflectir sobre outras mudanças em curso no sistema, como o novo estatuto do aluno. Ainda na ressaca da situação vivida na Escola Carolina Michaelis, onde uma aluna brutalizou a professora («claro que não podemos estar de acordo com esses comportamentos»), a Plataforma avisa que «os estudantes não se vão deixar intimidar», embora percebam que existe uma intenção de «radicalizar posições».
«Não podemos estar de acordo com o novo estatuto, porque existe uma tendência de tratar os alunos como criminosos. Por exemplo, a partir de agora, sempre que existir um problema, o aluno pode ser suspenso durante cinco dias sem que seja dada qualquer explicação aos pais. E ainda lhe retiram a oportunidade de participar nas actividades extra-curriculares, quando essas ainda são as que conseguem manter alguns alunos dentro da escola. Não vem resolver nada», contesta Luís Baptista.

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